"A CEAGESP foi tomada por um atentado criminoso, o qual lamentamos
imensamente, principalmente por causa dos feridos. E faremos o possível para que o entreposto da Capital volte à
normalidade, no que pode ser possível depois de uma circunstância como essa.
Esta é uma empresa pública que tem por missão servir à sociedade da melhor
forma possível. Não é um espaço público no sentido que cada um faz o que quiser
aqui dentro. É isso que está em jogo por trás dos episódios desta
sexta-feira".
Presidente Maurici de Lima Morais.
A CEAGESP foi vítima de um ato covarde de vandalismo, um ato criminoso
provocado por bandidos com a intenção de impedir a execução de importante
trabalho no entreposto da Capital, que é o de controlar e monitorar o que
acontece nas dependências do mercado. Uma iniciativa para coibir atos de
violência e agilizar a fluidez de trânsito. A administração da CEAGESP tem
convicção que o ato de banditismo não foi obra de trabalhadores -
caminhoneiros, comerciantes ou carregadores honestos que atuam no mercado.
Foram marginais, alheios ao cotidiano da CEAGESP. O presidente da CEAGESP, Maurici
de Lima Morais, concedeu entrevista coletiva na sexta-feira à noite, após os
lamentáveis episódios de vandalismo que prejudicaram não apenas a companhia,
mas toda uma população que espera contar com um abastecimento de produtos
naturais confiável e com qualidade. A
seguir, os principais tópicos da entrevista.
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Cobrança
A cobrança está suspensa sine
die (sem data marcada). O que não está suspensa é nossa determinação de
adotar um sistema de monitoramento e controle de trânsito e de controle de
entrada e saída de veículos e pessoas do entreposto. Cobrando ou não, nós já tínhamos a convicção de que isso seria
necessário e depois do acontecido na sexta-feira estamos ainda mais certos de
nossa decisão. Não é possível que um espaço público como esse, com a
importância que tem para a sociedade, seja devassável da maneira como foi.
·
Ato criminoso de vandalismo
Não temos condições de responsabilizar ninguém neste momento. O que
posso dizer é que não foram caminhoneiros ou tampouco carregadores.
Caminhoneiro estava preocupado com sua operação, carregador com seu
carregamento. Claro que se tivéssemos a Polícia Militar aqui dentro
diariamente, isso não teria acontecido. Mas esse não é o papel dela, correto? O
que aconteceu aqui foi a chegada de uns três ou quatro grupos de vândalos, que
orquestradamente vieram aqui e
começaram a depredar alguns equipamentos, principalmente os mais ligados ao
novo sistema, depois partiram para queimar veículos e prédios administrativos.
Por quem? não sabemos dizer. O que temos condições agora é de disponibilizar as
imagens que temos identificando vários bandidos que participaram do ato
criminoso.
·
Não é pela tarifa
A questão que se coloca é a seguinte: estruturamos um projeto, que
para sua execução necessita de fontes de financiamento para cobrir os
investimentos de cerca de R$ 22 milhões para ser feito. No caso do
monitoramento, a receita vem da cobrança de acesso. Sem a tarifação, teremos
que descobrir outras formas de financiamento. Não é um projeto simples,
tampouco barato, mas garantir uma vigilância de maior qualidade e o controle de
tráfego interno aqui é uma necessidade. Os valores estipulados foram
determinados após vários estudos que apontaram ser quatro horas um período de
tempo adequado para carregar e descarregar um caminhão. Fizemos um edital sem
visar arrecadação, mas a execução de um serviço de monitoramento eletrônico e
operação de trânsito pelo menor preço de tarifa. Esse foi o critério: menor
preço priorizando a execução do serviço e não incrementar a arrecadação da
CEAGESP com isso.
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Funcionamento do sistema
O problema registrado pela manhã de sexta-feira (14/3) não estava mais
ocorrendo por volta das 10h, quando houve o início da depredação. A informação
que o fluxo desta sexta-feira foi muito maior que em uma sexta-feira normal.
Não temos ainda a explicação para o que houve naquela manhã. Pode ter ocorrido
uma concentração de veículos por causa do rodízio ou da restrição de circulação
de caminhões nas marginais? Pode ser, mas por enquanto não temos como saber com
exatidão a origem do problema. Ressalto
que iniciamos a cobrança na quinta-feira, um dia de menor movimento
("apenas 11 mil veículos"), e não houve problema de funcionamento do
sistema. Fizemos, pelo menos, três semanas de simulações do sistema (sem a cobrança),
fizemos os ajustes verificados neste período de testes e acertamos a operação
para começar na quinta-feira, que transcorreu praticamente dentro da
normalidade.
·
Boicote
Não temos condições de afirmar algo nesta linha. Temos sim registros
de ocorrências estranhas, que aparentemente tentaram retardar o funcionamento
do sistema. Na quinta-feira, por exemplo, alguns usuários resolveram pagar numa
estranha coincidência os valores dos R$ 4,00 com notas de R$ 100,00. Obviamente
que isso atrasa o processo. Talvez, diante das dúvidas dos motoristas sobre o
sistema de cobrança, os motoristas que demoraram alguns segundos para entrar
levaram muito mais tempo para, efetivamente, adentrar no entreposto. Registro
que, antes de pegar a tarjeta de pagamento, a fiscalização precisa verificar a
carga, conferir com a nota fiscal etc. Isso sempre foi feito, é nossa obrigação
fazê-lo. E o pagamento se dá na hora de sair, é difícil falar assim que o
problema foi na entrada. Pois a retirada do ticket na portaria é um processo
rápido, semelhante a qualquer estacionamento particular como os dos shopping
centers.
·
Monitoramento
Estamos implantando 360 câmeras para monitorar o que acontece no
entreposto para proteger as pessoas que trabalham aqui, para impedir os
"buzinaços" que ocorrem aqui dentro e no entorno e para garantir que
o movimento do mercado anda rapidamente e que circulem aqui só as pessoas
afeitas às operações de trabalho específicas às atividades do mercado. Ou seja,
aqui só tem que circular ou quem vende, ou quem compra ou quem vem trabalhar
aqui.
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Cadastro de veículos
Estávamos planejando que a partir do dia 20 iríamos impedir a entrada
de carros no mercado. Diante dos acontecimentos, suspendemos essa operação. Mas
já comunicamos o mercado que, em algum momento, veículos que não tenham relação com as operações do mercado não
vão poder entrar. E não estamos falando de cobrança de tarifa de acesso.
Trata-se de uma medida administrativa. Quem entrar no entreposto ou vem comprar
mercadoria, vender ou trabalhar aqui. O cadastramento está sendo pelo CNPJ ou
CPF dos motoristas. Os automóveis de
passeio que vêm para a feira de flores ou outras atividades do tipo sempre
estacionaram e vão continuar parando nos bolsões de estacionamento, pagos. Como
sempre foi e continuará sendo. O que
vai mudar é que nos dias de semana, após as 16h, permitimos a entrada de
veículos de passeio no entreposto, o mesmo aos finais de semana. O que não será
mais permitido.
·
Caminhões
Por que um caminhão tem que ficar parado de terça até sexta-feira,
ocupando um espaço importante dentro do entreposto? O papel dele é entrar aqui
descarregar e sair. Aqui não é um lugar de estacionamento de caminhões. Se o
caminhoneiro tem que ficar na região por mais dias, tem que sair e estacionar
fora do entreposto, pois ao ficar aqui ele prejudica quem quer carregar e
descarregar com agilidade. É o mesmo que acontece com cerca de dois mil
veículos utilitários que ficam parados no mercado sem ter relação direta com
carga e descarga. Se conseguirmos tirar esses dois mil veículos, teremos mais
espaço para as manobras dos caminhões e, consequentemente, maior fluidez no
trânsito.
·
Controle de acesso
Hoje não há um controle de entrada no mercado. São 50 mil pessoas aqui
diariamente. A questão da violência não é um problema menor. Temos 380
ocorrências de crimes registradas aqui só no ano passado, casos como
homícidios, furtos, roubos de caminhões e acidentes de carros. Neste sábado
mesmo, um dia depois dos atos de vandalismo cometidos aqui dentro, houve o
atropelamento de um carregador nas dependências do entreposto. O controle,
tanto de entrada quanto monitoramento, é importante para restringir isso. Hoje é preciso reconhecer que o entreposto
não tem o melhor ambiente para os negócios aos quais se destina, de exercer sua
missão. Estamos atuando na conscientização do mercado dessa situação.
Infelizmente teve esse episódio da sexta-feira, mas não abrimos mão de atuar no
sentido de melhorar o ambiente de negócios e convívio aqui dentro.
·
Impacto nos preços dos alimentos
É preciso verificar a questão do custo do acesso no contexto de cada
situação. Ou seja, um comerciante que está alegando ter que desembolsar R$ 80
mil mensais, se é que será isso mesmo, com as tarifas de acesso vai pagar sobre
uma base de 5 mil toneladas de alimentos, que geram um faturamento de cerca de
R$ 5 milhões. Repassar isso aos preços de forma correta, nestas condições,
significaria um acréscimo de muito menos de 1% no preço do quilo do produto. Em
muitas simulações que fizemos, o impacto seria de 0,0001 no preço final. Ou
seja, não é representativo.
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Rateio de permissionários
Não é verdade que é possível gerir um sistema de controle e
monitoramento apenas com os recursos de rateio dos permissionários. O rateio é necessário para cobrir as atividades
de segurança privada, os trabalhos de limpeza e manutenção do entreposto e as
atividades administrativas. Lembro que apenas com a operação de trânsito pela
empresa licitada estamos com 140 operadores de tráfego, o que já vinha
apresentando ótimos resultados. Tanto que a frequência dos buzinaços,
excetuando-se obviamente a manhã da sexta-feira, tinha diminuído
consideravelmente após as alterações no viário que implementamos e a ação
destes operadores.
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Público x privado
Essa é a questão que está colocada neste contexto todo. O que existe
aqui é um espaço público mas que nestes 47 anos de existência foi ocupado
indevidamente de modo privado. O que estamos tentando fazer é recuperar esse
espaço importante e fundamental de volta para a sociedade. O que quero dizer é que o que está em jogo
aqui é a definição deste espaço público. Ou é um espaço público voltado para a
sociedade, para prestar serviços de qualidade a ela, ou é um espaço público no
sentido de que não é de ninguém e todo mundo faz o que quer aqui dentro.
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Ministério Público
Uma das razões de adotarmos o sistema de monitoramento foi justamente
para atender ao Ministério Público que exige medidas efetivas contra
prostituição e trabalho infantis. Apresentamos o projeto de instalação das
câmeras, do sistema como um todo, e o Ministério Público considerou que este
seria um instrumento adequado para o combate desse tipo de crime.
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Contratos
O Ministério Público está nos instando a abrir concorrência pública
para licitar os boxes dos permissionários. Por que? Porque nunca foram feitas
licitações para o amplo conjunto de contratos que temos. Isso há quarenta anos.
A legislação diz que tem que licitar, o que nós queremos é cumprir a lei.
Apenas isso. E, obviamente, isso vai gerar uma nova crise junto aos
permissionários.
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Prejuízos
Não é possível avaliar os prejuízos, que obviamente não foram poucos.
Além dos equipamentos do sistema (cancelas, guaritas, sinalização etc) perdemos
dois prédios importantes. O Departamento que foi incendiado, por exemplo, é
onde funciona toda a administração do entreposto da capital. Mas ainda não
temos condições de fazer um balanço dos prejuízos.
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Investimentos
A CEAGESP esteve há, pelo menos, 17 anos sem capacidade de
investimento. Por quê? Nos anos 90, a empresa foi "vendida" ao
governo Federal para pagamento de dívidas do Estado de São Paulo com a União.
Essa federalização não tinha sido concluída, o que conseguimos equacionar no
final de 2013, recebendo recursos que estavam pendentes por parte do Estado de
São Paulo. Mas com a federalização, a CEAGESP também passou a fazer parte do
Plano Nacional de Desestatização (PND), o que a impede de, por exemplo, dispor
de parte de seu patrimônio para obter receita para investimentos, entre outras
restrições administrativas. Estamos atuando para retirar a CEAGESP do PND e
recuperar nossa capacidade de investimento. Hoje, os cerca de R$ 100 milhões de
orçamento anual da empresa são comprometidos com os serviços atuais, não
sobrando margens para iniciativas que exijam fôlego financeiro mais acentuado.
Lembro que, antes de concluirmos a federalização, estávamos demorando uma média
de 100 dias para cumprir nossas obrigações com fornecedores.
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