“Fala,
Comandante!”. Nunca mais se ouvirá pelo Entreposto Terminal São Paulo (ETSP) a
voz grave, mas doce do Manoel da Silva Filho, mais conhecido como Manelão, a cumprimentar
com este jargão quem ele encontrava pelo mercado em suas buscas por frutas,
legumes e verduras para “suas crianças”, ou seja, os assistidos pela Associação
Nossa Turma, entidade idealizada e criada por ele e que cuida de crianças e
adolescentes provenientes das comunidades carentes no entorno da CEAGESP.
Manelão
faleceu aos 68 anos no domingo, dia 9 de junho, vítima de câncer no cérebro e
pulmão, que a despeito do tratamento realizado até mesmo no Hospital do Câncer,
em Barretos (SP), virou uma metástase que acabou por tomar a vida deste
protetor das crianças e jovens menos afortunados que foram tocados por sua
gentileza e bondade. O Comandante, como também era conhecido, foi enterrado na segunda-feira
(10/6), em Bebedouro, cidade distante cerca de 376 km da capital paulista.
Figura
carismática, ele chegou à CEAGESP em 1971 para trabalhar como carregador, e sua
figura de 1m86 e 126 kg deve ter causado imponência, assim como chamava atenção
a sua preocupação com os menos favorecidos. Em 1998, já trabalhando como
gerente de um box de frutas, ele criou uma escolinha de futebol para crianças,
que funcionava em um terreno dentro do ETSP.
Sua
ideia deu tão certo que não demorou muito para ele reunir cerca de 200 crianças
correndo atrás de um bola. Em 2001, com o apoio da CEAGESP, foi fundada a
Associação de Apoio à Infância e Adolescência Nossa Turma, que começou
oferecendo aulas de reforço escolar, música, artes e esportes crianças carentes,
e chegou a atender cerca de 600 alunos desde a sua criação. Sua indicação para
presidir a instituição foi uma consequência natural no caminho desse grande
homem.
Hoje,
a Nossa Turma se define como uma organização sem fins lucrativos com projetos
voltados para educação e capacitação profissional, e que trabalha com crianças,
adolescentes e adultos em situação de risco social, que moram nas comunidades
da Linha, do Nove, do Humaitá e Conjunto Cingapura, localizadas no entorno da
CEAGESP. Além disso, tem um contrato firmado com a Secretaria Municipal de
Educação para funcionar como Centro de Ensino Infantil e atende cerca de 108 crianças
entre 11 meses e 4 anos.
Por
trás desse imenso trabalho social, sempre esteve à frente a figura do Manelão,
de quem era muito raro ouvir algum tipo de lamúria ou reclamação. Ao contrário,
ele sempre dizia ser muito agradecido por tudo que já tinha conseguido na vida.
Mas suas ações –sempre carregadas de humildade e desapego às vaidades – não passaram
desapercebidas. Em 2004, ele foi homenageado pelo jornalista Gilberto
Dimenstein, que dedicou um capítulo sobre sua vida no seu livro “Heróis
Invisíveis”, que retratou a trajetória de 50 personagens da cidade de São
Paulo.
Em
todas as ações sociais e de arrecadação de fundos para a Nossa Turma, o Comandante
sempre esteve à frente dos trabalhos, recebendo a todos com seu imenso sorriso,
cumprimentando a todos com sua mão imensa e calosa, mas repleta de carinho, sem
falar no abraço farto que ele distribuía para todo mundo, sem distinção. Incansável,
era a sua figura que atraía e conseguia doações de diversas empresas para a instituição,
como ações de reforma e pinturas das instalações, presentes para os dia das
crianças e Natal, prendas para bingos e bazares.
Manelão
ainda tentou entrar na política algumas vezes, tendo se candidatado a vereador
e deputado em alguns pleitos, mas nunca conseguiu se eleger. Mas parecia que
isso pouco importava para ele, porque ele continuou com seu trabalho social, e
não era difícil encontrá-lo, mesmo já com a idade avançada e com a saúde fraca,
empurrando um carrinho pelo mercado atrás de doações de alimentos para
incrementar as refeições servidas aos alunos da Nossa Turma. E pelo jeito que
ele demonstrou ser durante toda a sua vida, à sua maneira ele irá continuar a
trabalhar pelo próximo, mas agora junto ao Senhor. Descanse em paz, Comandante.
A
CEAGESP agradece todos os anos de excelentes serviços prestados e presta as suas
condolências à sua família e aos colaboradores da Associação Nossa Turma.
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